O livro da briga das placas, dos recortes da internet, da menina que tinha uma boca no cotovelo, da reunião por zap do G8, da bola de boliche que desceu a ladeira no carnaval, da casquinha de sorvete que cabia até tudo até cachorro, do colecionador de palavras difíceis, das manifestações contra as bolinhas de queijo, da receita do pavê, da mulher que lambeu o sol. O livro, sim, dos absurdos.
conto: a mulher que lambeu o sol
"tinha mania de lamber objetos amarelos. começou com polenta, milho e quindim, que tinham gostinho bom e combinava com algo que você coloca na boca, depois passou para uma placa de trânsito, depois patinhos amarelos na banheira, a camiseta da seleção brasileira foi lambida às lágrimas durante a copa de dois mil e seis, a língua do all-star foi lambida, o que virou uma cena extremamente metafórica, um guarda-chuva amarelo, uma capinha de celular, uma plaquinha de taxi, um sofá vintage, uma bexiga de festa, um azulejo antigo, uma bola de tênis, uma galocha, lambia tudo com uma vontade bem amarela, um dia decidiu lamber o semáforo, se pendurou no poste e ficou esperando a luz amarela acender, luz essa que aparecia em um intervalo menor do que as outras - o que a deixava muito excitada, outro dia encontrou uma criança com icterícia na padaria e começou a lamber sua testa, seus olhos, sua boca. alguns meses depois foi encontrada queimada, após lamber o sol com a ajuda de uma escada de bombeiro."